Como Eu Quero" – O que realmente diz essa música?
- Ana Paula
- 3 de mar.
- 3 min de leitura

Lançada nos anos 80 pelo Kid Abelha, "Como Eu Quero" é um clássico da música brasileira. Mas, ao contrário do que muitos pensam, essa canção não é sobre um amor romântico. Na verdade, ela retrata uma relação abusiva, onde uma pessoa tenta moldar a outra de acordo com suas próprias vontades. Em uma entrevista, Leoni, um dos compositores, revelou que a música fala sobre controle e manipulação, algo que muitas vezes passa despercebido por quem canta seu refrão envolvente.
🎵 Link da entrevista: Assista aqui
O que a letra nos revela?
"Diz pra eu ficar muda, faz cara de mistério
Tira essa bermuda que eu quero você sério"
Desde o início, a letra já mostra um tom de comando. Quem canta não faz pedidos, mas exige. Há uma tentativa de mudar o outro para que ele se encaixe em uma versão mais "adequada" aos olhos de quem controla. O desejo de que o outro seja sério e se comporte de determinada forma já sinaliza uma dinâmica de poder.
"O que você precisa é de um retoque total
Vou transformar o seu rascunho em arte final"
Aqui, o abuso fica ainda mais evidente. A ideia de que o outro precisa de um "retoque" reforça a crença de que a pessoa não é boa o suficiente do jeito que é. Muitos relacionamentos abusivos começam assim: com falas aparentemente inofensivas sobre a roupa, o cabelo, o jeito de falar. Mas, por trás disso, há uma tentativa de apagar a identidade do outro.
"Longe do meu domínio, cê vai de mal a pior
Vem que eu te ensino como ser bem melhor"
Esse trecho reforça uma estratégia muito comum: desqualificar a vítima para que ela acredite que não consegue viver sem o abusador. Ele se coloca como o único capaz de guiá-la, como se, sem ele, ela estivesse perdida. Isso cria uma dependência emocional que torna a fuga ainda mais difícil.
Quando o amor deixa de ser amor
Muitas mulheres passam por relações assim sem perceber. O abuso nem sempre começa com gritos ou agressões físicas. Às vezes, ele chega sutilmente, em forma de críticas constantes, pequenas humilhações e no controle sobre a maneira de vestir ou agir.
O problema é que, com o tempo, essas pequenas imposições vão se acumulando, e a vítima começa a se sentir insuficiente, acreditando que precisa mudar para ser aceita. Essa é uma armadilha cruel, pois mina a autoestima e a autonomia de quem sofre a violência emocional.
Se você sente que precisa ser alguém diferente para ser aceita, se suas escolhas são constantemente questionadas ou se você se sente diminuída dentro de um relacionamento, isso não é amor. O amor de verdade não exige mudanças, ele acolhe. Não diminui, fortalece.
E por que ainda cantamos essa música?
Mesmo com uma letra tão pesada, "Como Eu Quero" segue sendo um clássico. Talvez porque, por muito tempo, normalizamos esse tipo de relacionamento. As músicas, os filmes e até os contos de fadas romantizaram o controle, como se ele fosse uma prova de amor.
Mas hoje podemos enxergar as coisas de outra forma. Não há problema em cantar a música, desde que a gente compreenda seu verdadeiro significado. Mais do que isso, que saibamos reconhecer quando alguém tenta nos encaixar em um molde que não é o nosso.
Porque a verdade é uma só: quem te ama de verdade não quer você "como quer", mas como você é.

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