Desacelerar para Ouvir: Um Convite ao Tempo das Conversas
- Ana Paula
- 2 de abr.
- 2 min de leitura
Atualizado: 3 de abr.

Há um fenômeno curioso que permeia as nossas conversas hoje: a urgência em ser rápido, direto, eficiente. As palavras precisam caber em mensagens curtas, em áudios que não ultrapassem alguns segundos, como se o tempo fosse um bem tão escasso que não pudesse ser gasto com histórias demoradas.
Ouvir um áudio em velocidade normal virou quase um gesto raro, uma espécie de prova de carinho. Porque o comum é acelerar. Para ganhar tempo, para não se perder no detalhe.
“Eu acelero os áudios de todo mundo, menos os seus”, dizem alguns. E talvez isso signifique algo. Talvez signifique que, em meio à correria, a gente ainda procura um lugar onde possa parar e simplesmente ouvir.
A pressa se espalha. Começa nos áudios que aceleramos, depois nos vídeos que assistimos com o dedo já preparado para pular partes. Na falta de paciência para capítulos longos, para histórias que se constroem devagar. Logo, perdemos também a paciência para ouvir o outro sem querer adiantar a conclusão.

E é curioso perceber que, mesmo em meio a tanta pressa, o desejo por conversas longas persiste. Há quem se sinta à vontade para falar mais, se alongar, se demorar nas palavras. Talvez porque exista, lá no fundo, uma vontade de ser ouvido sem pressa. De ser acolhido sem o peso da urgência.
A velocidade nos promete eficiência. Mas, às vezes, é só um jeito de correr por cima das coisas. E quando a gente acelera tudo, será que sobra espaço para sentir? Para se conectar de verdade?
Desacelerar não é um ato de resistência, mas um convite. Um convite para ouvir e ser ouvido sem a pressa de já entender tudo, sem a pressa de seguir para a próxima coisa.
Porque talvez o que faz uma conversa ser especial não seja a sua duração, mas o cuidado que se coloca nela.

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