Vinagre de Maçã: a ácida história real que expõe o perigo da rede social.
- Ana Paula
- 25 de fev.
- 3 min de leitura
Atualizado: 26 de fev.

Se você pudesse criar uma versão mais interessante da sua vida, você faria? E se essa versão trouxesse mais seguidores, mais oportunidades, mais admiração?
"Vinagre de Maçã" é uma série australiana da Netflix que estreou em 6 de fevereiro de 2025. A trama acompanha Belle Gibson, uma influenciadora digital que afirmava ter curado um câncer cerebral terminal através de práticas naturais e um estilo de vida saudável. Mas sua história, antes inspiradora, se revelou uma farsa. O que era vendido como uma jornada de superação virou um alerta sobre os perigos da desinformação no universo do bem-estar digital.
O nome "Vinagre de Maçã" não é por acaso. O ingrediente é um dos queridinhos das terapias alternativas e frequentemente promovido como um remédio milagroso para uma infinidade de problemas de saúde. Assim como Belle promovia sua falsa cura.
Mas o que leva uma mulher talentosa e inteligente a acreditar que a sua história, por si só, não basta?
O sucesso digital e a fome de validação
Belle construiu um império digital em torno de sua suposta cura milagrosa. O Instagram, um aplicativo e um livro foram suas ferramentas para consolidar uma marca pessoal dentro do universo da saúde alternativa. Mas não era apenas sua história que conquistava o público. O que impulsionava seu sucesso era a validação constante de seus seguidores, que acreditavam nela e compartilhavam sua narrativa.
Na era digital, a aprovação alheia virou uma moeda social poderosa. Se não fosse o câncer, Belle teria alcançado o mesmo sucesso? Talvez. Mas ela não apenas contou uma mentira — ela viveu essa mentira.
Em entrevistas e declarações públicas, sua postura muitas vezes sugeria que ela acreditava no que dizia. Até onde ia sua consciência sobre a fraude? Ela se convenceu da própria história ou manipulava deliberadamente as pessoas?
Seu comportamento remete a transtornos como a mitomania (mentira compulsiva) ou o transtorno factício, em que alguém finge estar doente para obter atenção. Mas, mais do que um diagnóstico, a história de Belle é um reflexo da cultura da performatividade nas redes sociais.
Autoestima, comparação e pertencimento
Belle Gibson se tornou a "sobrevivente" que desafiava a medicina tradicional. Com isso, criou um senso de pertencimento entre seus seguidores, muitos dos quais buscavam alternativas à medicina convencional e se identificavam com sua jornada.
Ela alimentava a necessidade de validação desse público, mas também se via presa a um ciclo de comparação. Como influenciadora, estava constantemente exposta a outras figuras do bem-estar digital. E quando se vive para agradar e inspirar, manter uma imagem impecável vira uma exigência silenciosa.
A série também revela como Belle se cercava de um ambiente que reforçava sua narrativa, evitando questionamentos. Um fenômeno comum nas redes sociais, onde os algoritmos nos entregam apenas conteúdo que confirma nossas crenças. No fim, acabamos vivendo dentro de bolhas que nos impedem de enxergar o outro lado.
O peso das expectativas sobre o sucesso feminino
Belle não era apenas uma influenciadora de saúde. Era um ícone de superação e empreendedorismo feminino. E isso vem carregado de expectativas.
A sociedade muitas vezes espera que mulheres bem-sucedidas sejam inspiradoras, generosas, impecáveis. Belle incorporou essa imagem e construiu um império sobre a ideia de que havia vencido o câncer de forma natural.
Sustentar essa mentira, mesmo quando as dúvidas surgiram, pode ter sido uma resposta à pressão por manter sua imagem de mulher extraordinária. O que levanta uma discussão importante: no mundo digital, quantas mulheres sentem que precisam atender a padrões inalcançáveis para serem aceitas e admiradas?
O que aprendemos com essa história?
"Vinagre de Maçã" não é apenas uma série sobre uma farsa. É um retrato da cultura digital, da busca por validação e do impacto da desinformação na era das redes sociais.
Belle Gibson conseguiu enganar milhares de pessoas porque ofereceu o que elas queriam ouvir: soluções fáceis para problemas complexos. Mas o mais perturbador dessa história é que não se trata apenas de uma influenciadora mentindo. Trata-se de um sistema que permitiu que essa mentira prosperasse.
A série nos faz refletir: quando a aceitação vem de curtidas, seguidores e aprovação alheia, até que ponto estamos vivendo para nós mesmos? E até que ponto estamos moldando nossa identidade para sermos aceitos?

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